Jornada pelo Velho Continente II

25-07-2015 13:14

Cruzando o Canal da Mancha, Londres me reservava algumas surpresas. Fui parar no sebo londrino Book & Comic Exchange. A loja fica em Notting Hill, lugar onde foi rodado o filme Um Lugar Chamado Notting Hill. O local é super descolado e organizado. Pedimos por um livro, quadrinho ou revista e, rapidamente, o atendente, que parece ser um dos donos dali, acha o título no computador. A Inglaterra não é como na França, o paraíso das HQs, mas mesmo lá, achei material europeu em banda desenhada. Um deles era Chico & Rita, da editora Self Made Hero. É a adaptação para os quadrinhos de uma animação de 2010, de mesmo nome. Seus autores são Fernando Trueba e Ignacio Martinez de Pisón (roteiro) e Javier Mariscal (arte e cor). Em sua trama, Chico é um jovem pianista que tem grandes sonhos. Rita é uma linda cantora, possuidora de uma voz incomparável. Eles se apaixonam um pelo outro, mas o romance não repete o mesmo sucesso de suas carreiras profissionais. Desenhado num estilo Ligne Claire moderno, tem 216 páginas e seu texto e visual são de uma beleza impressionante. O endereço do Book & Comic Exchange é 14 Pembridge Rd, London W11 3HL, Reino Unido. Vale a pena conhecer.

 

Para finalizar, em solo londrino, a Forbidden Planet foi minha parada britãnica final. Ela fica no número 179 da Shaftesbury Avenue, perto do Chinatown. Tem de tudo um pouco por lá: colecionáveis, graphic novels, álbuns europeus, produtos ligados à ficção científica, mangá, anime, camisas, estátuas, art books, posters, games, além de todo o tipo de artigo relacionado a seriados e filmes. As HQs ficam no subsolo. É uma seção bastante completa, incluindo títulos europeus. Achei inúmeras edições de Thorgal e muito material de Humanoïdes Associés. Nesta seção, descobri quadrinhos inspirados nas séries de SUPERMARIONATION de Gerry Anderson. O material foi publicado originalmente nos anos 1960 e voltou em incríveis reedições em capa dura. O que adquiri, The Gerry Anderson Collection, inclui histórias dos Thunderbirds, Joe 90, Stingray, Lady Penélope, Fireball XL-5 e Capitão Escarlate. Isto não tem preço, mas custou exatas de 25 libras. Bem caro! Não é exatamente franco-belga, mas vale registrar o achado.

 

Resumindo este passeio inesquecível, posso dizer que é como se tivesse ido ao Planeta Marte, entrando em contato, principalmente na França, com uma cultura que respira HQs e que as trata com a seriedade que estas merecem. Nem em Portugal, país que conheço e onde as publicações do gênero tem seu espaço em livrarias, a situação é a mesma. Talvez, nunca venha a ser assim! No Brasil, as coisas estão caminhando nesse sentido, mas ainda falta muito para chegarmos perto de um quadro decente. A cabeça das pessoas daqui ainda relaciona quadrinhos a algo infantil e o reduto de leitores, que se dizem nerds, não se recicla. São sempre os mesmos! Esta parcela do público, em sua maioria, não conhece BD europeia ou dá preferência a mangás e a super-heróis americanos. Assim, será preciso que eu continue a viajar bastante para encontrar, lá fora, o que pouco vejo no Brasil. Triste realidade! Quadrinhos não fazem parte da nossa cultura!

 

Obrigado ao amigo Jorge Thorgal por pedir que escrevesse este texto, fazendo com que minha experiência com BD franco-belga seja ouvida no mundo lusitano!